Como escolher as medidas corretas na hora de se comprar uma cadeira de rodas? Baseado nisso, apresentamos um pequeno guia de como tirar você mesmo as medidas da sua cadeira.
É necessário conhecermos nosso corpo muito bem, como ele se comporta após a lesão, seu nível de equilíbrio, se você é para ou tetra, enfim, essas variáveis que você vai medir “mentalmente”. É importante que você teste seus limites, e faça isso várias vezes, em diferentes situações, com a cadeira em movimento, com ela parada, se imaginar em situações de transferência, tudo isso é muitíssimo importante na hora de decidirmos algumas medidas. Caso ainda não tenha essa opinião formada, agora é o momento para começar a exercitar essas percepções. Independente de você comprar uma nova cadeira.
Existem terapeutas especializados em cadeiras, geralmente terapeutas ocupacionais com especialização em adequação postural. Se você nunca passou por uma consulta com um profissional desses, é altamente recomendável que você o faça. Nos grandes centros de rehabilitação, com um pouco de espera, se consegue uma consulta dessas até de graça. Na AACD SP, por exemplo, é feita uma avaliação com uma assistente social que vai dizer o quanto você pagará pela consulta, ou se ela será gratuita. As unidades das rede Sarah também fazem esse serviço. Algumas lojas especializadas fornecem essa consulta grátis caso compre a cadeira com eles.
Bem, passada essa parte mais burocrática da coisa, vamos às medidas da cadeira propriamente dita.
Nos diagramas abaixo, vemos uma cadeira mobobloco. Segundo a ordem alfabética temos:
A – Largura do assento
B – Profundidade do assento
C – Altura do assento ao chão – dianteira
D – Altura do assento ao chão – traseira
E – Altura do assento ao apoio de pés
F – Altura do encosto
G – Ângulo do encosto
H – Centro de gravidade das rodas traseiras
I – Largura inferior do apoio de pés
J – Cambagem (inclinação da roda traseira)
K – Distância da roda ao quadro
L – Ângulo de inclinação da parte frontal da cadeira
Explicaremos todas as medidas abaixo, porém gostaríamos de salientar que os fabricantes nacionais não utilizam todas as medidas desse gabarito, portanto é sempre recomendado que você utilize a ficha de prescrição fornecida pelo fabricante. Em caso de dúvidas, não hesite em ligar para a fábrica e perguntar. Se você não se sente seguro o suficiente, procure ajuda especializada, afinal você está adquirindo uma cadeira e suponho que vá passar muito tempo sentado nela.
A – Largura do assento
Deve ser medida com a pessoa sentada na cadeira, na região mais larga do seu quadril (abri esse parênteses, pois foi questionado se poderia ser tirada a medida deitado). Leve em conta a sua preferência, mas no geral essa medida deve ser justa, caso você saiba que possa vir a ganhar peso facilmente, calcule essa medida com uma folga, lembrando que essa é a medida que vai influenciar na largura total de sua cadeira, ou seja, quanto mais larga, maiores serão as dificuldades para passar em portas e outros lugares onde costumamos entalar.
B – Profundidade do assento
A profundidade do assento é uma medida que vai depender da sua altura. Ela também influi no modo com que suas pernas ficarão posicionadas: em teoria, assento mais curto tende a deixar as pernas abertas e assento mais profundo tende a deixar as pernas mais juntas, lembrando que isso é teórico e pode não ser uma verdade para todos. A profundidade é importante para uma distribuição de peso mais uniforme sobre a almofada do assento. Se você tem problemas com úlceras de pressão, pense nisso. Leve em conta o seu gosto também.
C – Altura frontal do assento ao chão
Essa medida, o nome já diz tudo né? Acredito que aqui não serão necessárias muitas explicações, porém é importante salientar que essa medida é que vai definir em que altura seus joelhos ficarão, ou seja, ela indica se você vai ter facilidade de entrar embaixo de certas mesas. Pessoas com mais de 1,80m devem ficar atentas a essa medida, e eu sou prova disso, pois já tive uma cadeira que não entrava embaixo da mesa da minha própra casa (confiei no vendedor de cadeiras e me ferrei).
D – Altura traseira do assento ao chão
Assim como a medida acima, ela também é auto-explicativa, mas aqui temos um detalhe importantíssimo: a diferença entre essas duas medidas. É recomendável que exista uma diferença, com a frente mais alta que a traseira, e essa diferença recebe o nome de TILT. com a altura traseira um pouco mais baixa, seu assento terá uma inclinação, que lhe dará estabilidade e equilibrio, pois você ficará mais “encaixado” no assento. Até mesmo algumas cadeiras que não são feitas sob medida têm uma diferença. Mínima, mas têm. É complicado falar em números, pois mais uma vez é preciso saber se a pessoa gosta disso, mas no geral 5cm de tilt é algo que podemos deixar como padrão. Eu, pessoalmente, utilizo 10cm de tilt em minha cadeira. Na hora que alguém freia bruscamente a cadeira, essa medida evita que a força da inércia te jogue pra frente. Uma cadeira com a traseira mais baixa também pode possibilitar que você consiga até colocar a mão no chão e pegar objetos que caíram, o que pode ser muito benéfico.
E – Altura do assento ao apoio de pés
Aqui temos que tomar cuidado e medir muito bem, pois o apoio não deve ficar abaixo do ideal, isso pode até lhe trazer alguma deformidade. E se ficar alto, pode forçar muito devido ao excesso de peso de suas pernas podendo ocasionar incômodos, além do que isso lhe deixará com as pernas mais abertas também.
F – Altura do encosto
É mais do gosto da pessoa. O ideal é que não ultrapasse a altura da sua escápula, deixando seu tronco livre para fazer movimentos de giro e facilitando o toque da cadeira.Verifique se não existe nenhum problema com sua coluna, pois a dor nas costas pode ser devida a um mau acerto de altura ou ângulo de inclinação do encosto. Quanto mais baixo, mais liberdade você terá, até mesmo para a sua função pulmonar. Sua cadeira não é pra ser a “poltrona da vovó” (larga, alta…) , mas um encosto mais alto dá mais suporte. Avalie bem suas condições físicas antes de mudanças radicais e, se puder, escolha uma cadeira com a altura do encosto regulável.
G – Ângulo do encosto
Aqui também não temos muito mistério. Há quem prefira ficar com o tronco mais ereto e quem goste de ficar um pouco reclinado, eu utilizo 92 graus, inclinado levemente para frente. Assim, com o peso das minhas costas, o encosto cede um pouco me deixando na posição que eu gosto. Se você escolher 89 graus, sua cadeira ficará um pouquinho reclinada para trás levando sempre em conta o laceamento do encosto, Ah! se seu encosto for do tipo rígido, não conte com o fator dele lacear.
H – Centro de gravidade / posição das rodas traseiras
Essa medida é muito importante e pouco levada em consideração pela grande maioria devido a falta de conhecimento. De acordo com a posição das suas rodas traseiras, mais à frente ou atrás, a cadeira fica mais fácil de tocar, pois distribue-se melhor o peso. Ela também é responsável por deixar a cadeira mais fácil de empinar, e é preciso cuidado nessa hora pois uma medida errada pode deixar a cadeira muito perigosa e você terá que utilizar rodas antitombo que impedirão que a cadeira vire para trás. Eu acho que empinar é um mal necessário, e a Bianca até já escreveu um post sobre isso. Considerando uma cadeira padrão de 40×40cm de largura e profundidade, para um cadeirante ativo, é recomendado no mínimo 4cm de avanço do centro de gravidade.
I – Largura inferior do apoio de pés
Os fabricantes nacionais não fornecem essa opção, ou seja, a sua cadeira poderá ter essa largura igual a largura do assentou OU com uma diferença de alguns centímetros apenas, o que na minha humilde opinião deixa o apoio de pés muito largo fazendo que nossos pés fiquem devidamente acomodados. Isso evita espasmos, e que seu pé vá para frente em um terreno mais acidentado.
J – Cambagem (inclinação da roda traseira)
É o ângulo de inclinação das rodas traseiras, em cadeiras utilizadas para a prática de esportes é muito comum vermos as rodas inclinadas, pode-se optar por uma pequena inclinação, mas lembramos que isso aumenta a largura total de sua cadeira.
K – Distância da roda ao quadro
Eu nem deveria falar dessa medida aqui, pois desconheço a existência de algum fabricante nacional que utilize essa medida, é basicamente a distância entre a roda traseira e a lateral da cadeira, essa medida também afeta a largura total da cadeira e sempre recomdendamos que ela seja a menor possível. Não estranhe se não encontrar essa medida nos formulários de prescrição, mas a medida que vem padrão é aceitável.
L – Ângulo de inclinação da parte frontal da cadeira
Aqui será definido o modo que desejamos deixar nossas pernas, se você prefere ficar com o joelho completamente dobrado, escolha 85 graus, mas se isso lhe causa algum desconforto você pode abrir mais o ângulo, lembrando que isso deixará o comprimento total de sua cadeira um pouco maior. Os fabricantes nacionais não fazem cadeiras com mais de 85 graus de inclinação.
Toda cadeira nova tem um tempo mínimo para adaptação (principalmente quando se sai de uma com medidas padronizadas para uma personalizada), quando sai sentei na minha primeira cadeira sob medida, achei muito estranho, mas em poucas semanas já estava me entendendo com ela. Acho que o mais importante foi escrito aqui, o guia não está perfeito, mas já ajuda a esclarecer muitas dúvidas. Em breve teremos posts referentes a acessórios e outros opcionais que uma cadeira possa ter.
Fonte: Christian Matsuy http://maonarodablog.com.br