sábado, 30 de janeiro de 2010

UM MUNDO INACESSÍVEL

O tema Acessibilidade tem sido a tônica do momento, por muitos e muitos anos a Pessoa com Deficiência esteve à margem da sociedade, seja pelo preconceito ou por uma simples e ignorante falta de conhecimento do assunto. A Constituição através de leis extremamente pertinentes e de sensibilidade única, tenta, porém, sem muito efeito, incluir a Pessoa com Deficiência no seio da sociedade tida como “normal”, mas, leis escritas em papel sem alguém ou alguns que as façam serem cumpridas, acabam se tornando obsoletas, esquecidas, desrespeitadas, enfim, sem valor algum.
Mas as leis não passam de uma imposição, eu diria até, de uma simplória forma dos legisladores se sentirem politicamente corretos e, até mesmo, de se sentirem menos culpados pela desigualdade criada ao longo da existência da humanidade.
É fato que, qualquer pessoa que se apresenta com alguma deficiência ou deformidade anatômica, seja ela, adquirida ou congênita, é o suficiente para que seja submetida aos olhares e pré-julgamentos preconceituosos de um outro ser humano que se acha “normal”. Infelizmente, a vida nos proporciona situações inusitadas e imprevisíveis, de maneiras totalmente adversas ao conceito de normalidade.
Esse “vazio” cultural, impregnado na história da humanidade, não será mudado através de imposições escritas (leis) ou até mesmo, sob forças impostas pela compaixão para com as “diferenças”. É certo que, temos que lutar sempre pela igualdade de condições, pelo respeito como cidadão, por oportunidades de trabalho, enfim, pela tão sonhada e quase utópica Acessibilidade.
Como é cultural essa polêmica, a Acessibilidade e a Inclusão Social, também terão seu tempo para se readaptarem e, não será na pura imposição do politicamente correto. Nossa luta terá que ser baseada única e exclusivamente na conscientização do ser humano, em especial, da própria Pessoa com Deficiência.
Não basta exigirmos os “nossos direitos”, temos que mostrar e provar à sociedade que nós temos e somos capazes de tudo, a superação plena é a melhor forma de provarmos esta tese. Para tanto, precisamos quebrar o preconceito da própria Pessoa com Deficiência e de seus familiares, pois, o preconceito inconsciente e despercebido se inicia dentro de casa.
A cultura aqui citada, o preconceito, a ignorância, a hipocrisia e a demagogia da sociedade em sua grande parte não me surpreende, mas, o que me deixa mais indignado, é a falta de respeito. Esta é a palavra chave para nós Pessoas com Deficiência, RESPEITO.
O Poder Público nos desrespeitam com o descaso, com a ineficiência nos atendimentos nos Postos de Saúde, com o desrespeito do direito de ir e vir, com a falta de planejamento de políticas públicas na melhoria à acessibilidade, inclusão social e profissional.
Mas a falta de respeito que mais incomoda, é a praticada covardemente contra as Pessoas com Deficiência, que é a política da necessidade, tão sórdidamente usada pelo comércio. Pois, ser deficiente ou ter alguma deficiência é sinônimo de necessidade de diversos itens essenciais à nossa sobrevivência, e, que são oferecidos e explorados pelo mercado, este que ao meu ver, é desleal, desrespeitoso e covardemente abusivo.
Exemplos: Vejam só, uma bicicleta moderna, com quadro de alumínio, 10 marchas, e, outros detalhes mais, tem o preço no mercado em torno de R$ 600,00 a 2.000,00, pois bem, uma cadeira de rodas, com quadro de alumínio, duas rodas com pneus semelhantes ao das bicicletas, duas rodinhas rígidas, um assento de lonita ou outro tecido qualquer, chegam a custar ao cliente o equivalente a R$ 2.500,00.
Um determinado automóvel que na concessionária custa ao cliente “normal” R$ 60.000,00. Ao “deficiente” que necessita de determinada adaptação, chega a custar até R$ 84.000,00.
Ah, mas o governo concede isenção de IPI, ICMS, etc., bom, vamos esclarecer tais concessões esdrúxulas: IPI é o único concedido à qualquer Pessoa com Deficiência, dependendo do valor e das cilindradas do veículo, isso por si só já caracteriza uma forma de preconceito. ICMS só é concedido às Pessoas com Deficiência que dirijam, ou seja, o Deficiente Visual, o Tetraplégico sem condições de dirigir, ou até mesmo ao que opta por não voltar a dirigir, não tem direito à isenção do ICMS, ou seja, a nossa legislação, também é preconceituosa!
Então nossas leis já não são mais tão pertinentes e sensíveis, como dito anteriormente. Complicado esse negócio de preconceito, não acham?
Para quem tem um automóvel e precisa de uma rampa manual, acreditem, chega a custar R$ 13.000,00. Se optar por uma rampa hidráulica e elétrica, pasmem, custa em torno de R$ 22.000,00.
Eu encontrei um mecânico disposto e de boa capacidade inventiva que concordou em fazer uma rampa em meu carro, igual e com os mesmos materiais da rampa manual anteriormente citada, com material e mão-de-obra, custou R$ 1.700,00. Isso não é incrível?
Aqui em Campo Grande – MS, duas lojas de referência em consertos e vendas de cadeiras de rodas, não tem acessibilidade, isso mesmo, existem degraus na entrada das lojas, que nome se dá a isto? Desrespeito!
Exceções á parte, não temos calçadas acessíveis, não temos locais apropriados nos cinemas, teatros, locais públicos, etc. Nos restaurantes, bares e demais, às vezes, tem uma rampa, mas, as mesas não tem altura e largura para receber um cadeirante, e, nossas leis são claras nestes casos, mas, onde está o Poder Público? Onde estamos nós? Cobramos?
Portanto, cabe a nós, Pessoas com Deficiência, nos dar ao respeito, para então, cobrarmos com veemência, com propriedade, com dignidade, e, exigir das autoridades para que façam sua parte, devemos mostrar à sociedade com atitudes, exemplos e superação que merecemos o respeito e a conscientização de todos.
Para isso, precisamos nos conscientizar e aprender a nos respeitar, para então, conquistar o respeito da sociedade esclarecida.
A falta de respeito é o que nos leva à um mundo inacessível.


Adriano Garcia
Méd. Veterinário, Cidadão e Cadeirante

CIDADANIA

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Série Superação: Este cadeirante deu a volta por cima

Fabiano Puhlmann, 43 anos, psicólogo e autor do livro A Revolução Sexual sobre Rodas - tetraplégico

O acidente

"Quebrei o pescoço duas vezes. No primeiro acidente, tinha 17 anos. Corri para mergulhar na piscina e escorreguei antes de saltar. Bati a cabeça no fundo e perdi os movimentos. Via o sangue saindo da cabeça e tentava me mexer, mas não conseguia. O segundo ocorreu em 2006. Lesei a medula no mesmo lugar ao cair da bicicleta."

A recuperação

"Depois do trauma, vem a negação. A realidade é insuportável. Tão insuportável que você quer mudá-la. A esperança [de voltar a andar] é uma forma de negação. Guardei minha prancha por dois anos após o primeiro acidente, achando que voltaria a surfar. Para mim, o trauma não atingiu o corpo. Atingiu a alma."

A volta por cima

"É possível manter um relacionamento após a lesão. Sou casado há 12 anos. A primeira coisa que eu quis fazer depois do segundo acidente foi transar. Minha mulher achou que eu estivesse doente e disse que era louco. Falei: 'Não estou doente, não, vamos transar e é já!' (risos). Eu queria me sentir íntimo dela de novo. Sexo é intimidade."
 

Deficientes sim, Vencedores também!

Os equipamentos de segurança (EPI) são muito importantes para todos os trabalhos, sendo cada um deles aplicado a sua atividade. O acidente é um caminho para que o fio que nos separa da doença e até da morte possa ser cortado e como consequência nos afeta.
Porém um acidente grave pode nos trazer algumas consequências que vão perdurar por nossas vidas ou pela vida de pessoas queridas, mas também nos serve para ensinar a viver de uma forma diferente e para aprendermos a dar mais valor a vida, as coisas mais simples e importância ao amor da família.
O mesmo ocorre quando perdemos ou temos reduzido o movimento de um ou mais membros do corpo e passamos a depender mais de outras pessoas. A visão do mundo muda, mas por muitas vezes a revolta aparece e nos deixa cego para a nova vida que foi oferecida e as novas lutas diárias. Diárias? É isso mesmo, as lutas são diárias e a cada dia temos que vence-la, pois o preconceito, a falta de acessibilidade, o apoio do governo e a falta de oportunidade ainda são grandes.
Todos nós gostaríamos de ter uma sociedade que entendesse as dificuldades do deficiente, ninguém quer ser tratado como coitadinho, apenas que se tenha uma vida digna e dentro da normalidade. Sabemos das limitações, queremos vence-las, mas sem o devido apoio fica muito difícil.

Fonte: Blog do The Best

NÃO SE ESQUEÇAM DE RECICLAR EM 2010

Não se esqueçam que as eleições de 2010 já está a caminho, e, como a nova ordem é reciclagem não poderíamos deixar de apresentar as novas URNAS para 2010.
Já confeccionamos as urnas, agora espero que os eleitores saibam usá-las.
Orientações de uso:
1º - Nunca se esqueçam do que os políticos prometeram;
2º - Conferir o que realmente foi feito e cumprido;
3º - Lembre-se: o político que compra voto não quer saber da população, mas sim, dele próprio;
4º - Se te oferecerem dinheiro em troca de voto, pegue o dinheiro, mas não vote no safado;
5º - Para os políticos que nada fizeram, grave bem as urnas que eles devam ir;
6º - NÃO DEPOSITE SEU VOTO NO LIXO. LUGAR DE VOTO É NA URNA, LUGAR DE POLÍTICO PORCARIA É NO LIXO. NÃO CONFUNDA VOTO COM LIXO!!!

OBS: CASO AS LIXEIRAS SEJAM PEQUENAS, DISPONIBILIZAREMOS MAIS GRATUITAMENTE.

Escrito por Adriano Garcia

Nós queremos ser felizes ..... Acessibilidade+Sensibilidade!

Sábado (16/01) fui ao Palácio Popular da Cultura, mais uma vez, tive que ficar no corredor e improvisar uma cadeira para minha esposa. A sensação é horrível, será que o prefeito e os responsáveis pelos prédios públicos não conhecem Leis?
Pois bem, saimos e resolvemos ir a uma pizzaria na Av. Afonso Pena, lá tem rampa de acesso, o atendimento é bom, mas, a altura das mesas ainda é um ítem complicado para nós cadeirantes.
Acho que não custa muito aos restaurantes, pizzarias, bares, etc., terem uma ou duas mesas onde um cadeirante entre e se acomode bem, afinal, nós pagamos a conta do mesmo jeito que um cidadão que anda normalmente.
Existem muitas pessoas portadoras de deficiência em Campo Grande, e, não saem na noite, não frequentam locais públicos, por pura falta de sensibilidade dos empresários, e, pior ainda, por negligência do poder público em não cumprir e não fazer cumprir as Leis.
É uma pena!!!

Por Adriano Garcia

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

CIDADANIA

"Direito conquistado mas não respeitado..."


EM SE FALANDO DE SEXO...

(do tema RIR E SER FELIZ)


Postado por Binho

ILUSÕES DO AMANHÃ

Esse poema foi escrito por um aluno da APAE, chamado pela sociedade de excepcional...
Excepcional é a sua sensibilidade!!!
Ele tem 28 anos, com idade mental de 15.

VALE A PENA LER...E REVISAR NOSSOS CONCEITOS!

"Por que eu vivo procurando um motivo pra viver, se a vida às vezes parece de mim esquecer?
Procuro em todas, mas todas não são você.
Eu quero apenas viver, se não for para mim que seja para você.
Mas às vezes você parece me ignorar, sem nem ao menos me olhar,
me machucando pra valer.
Atrás dos meus sonhos eu vou correr.
Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.
Se a vida dá presente pra cada um, o meu, cadê?
Será que esse mundo tem jeito?
Esse mundo cheio de preconceito.
Quando estou só, preso na minha solidão, juntando pedaços de mim que caíam ao chão,
juro que ás vezes nem ao menos sei, quem sou, talvez eu seja um tolo, que acredita num sonho.
Na procura de te esquecer, eu fiz brotar a flor.
Para carregar junto ao peito, e crer que esse mundo ainda tem jeito.
E como príncipe sonhador...
Sou um tolo que acredita, ainda, no amor."

PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE)

A SEXUALIDADE DO LESADO MEDULAR

Por Tabata Contri

Muita gente tem curiosidade, mas não tem coragem de perguntar, muita gente tem dúvida, mas tem vergonha de falar e assim fica impossível aprender, assim fica impossível ensinar…


A autora assina Ana G. vale muito a pena visitar a página, que é escrita de forma aberta, sem meias palavras, e tira dúvidas e paranóias.

Quem sofre uma lesão na medula, não só tem que usar a cadeira de rodas, como tem que passar por um processo de auto conhecimento, de cuidados específicos, muita coisa muda como o jeito de fazer xixi por exemplo, a grande maioria dos cadeirantes, precisam fazer o “cat”(cateterismo intermitente) que é passar uma sondinha descartável de em média 6/6 horas para poder eliminar a urina, ou por exemplo, tomar cuidado ao ficar muito tempo na mesma posição para não desenvolver uma úlcera de pressão, a famosa escara (ferida).
Mas ao mesmo tempo o cara que passa por isso não está doente, muito pelo contrário, esse cara teve uma lesão na medula que o impediu de andar com as próprias pernas e às vezes de sentir vontade de fazer xixi, mas ele é uma pessoa como todas as outras, que tem medos, vontades, desejos e sonhos, que passou por um processo de reabilitação, e que está pronto pra uma nova vida. Pode ser magro ou gordo, pode ser narigudo ou careca, pode ser um puta gato, é um ser humano.
O sexo faz parte da vida de todos nós, inclusive das pessoas que tiveram uma lesão na medula, é preciso quebrar tabus, é preciso ter auto confiança, é preciso manter a auto-estima em alta, somos bonitos, sensuais e sentimos tesão como qualquer outra pessoa. O tesão está na mente, tem pessoas que se excitam com uma foto na revista, outras com um filme pornô, outras com palavras ao pé do ouvido, outras simplesmente com um cheiro ou um olhar, é preciso se sentir bem, estar bem, independente de trocar passos ou tocar rodas.
É preciso desfrutar das coisas boas da vida, afinal de contas, estamos vivos, deficiência não é incapacidade, pelo contrário, poucos sabem do que um cadeirante é capaz nessa hora. Sexo é tudo, corpo, alma, mente e coração.
Cada caso é um caso, nenhuma deficiência é igual a outra, mesmo o nível da lesão sendo o igual, é diferente, cada corpo reage de uma forma, cabe a cada um saber explorar as áreas erógenas do próprio corpo.
Sem comparar com o que era antes, se não, fica difícil sentir prazer.
É importantíssimo usar do que tem, do que é capaz, a começar pelo olhar, gestos e palavras, mãos, dedos e boca, às vezes uma ajudinha, um remédio, não sei, como já disse, cada um reage de um jeito. Use a criatividade.
E em primeiro lugar se sinta bem.
Acidentes podem acontecer, sim, é preciso se reabilitar, (bexiga, intestino, cuidados com a pele), estude, aprenda, descubra seu corpo, e daí pra frente é com você. Vale a pena dizer que, muita conversa, papo aberto, é muito importante, é preciso ter uma intimidade verbal pra depois ter a intimidade física.
Não tenha medo de ser quem você é, afinal de contas estamos cansados do igual, e ser diferente pode ser bem legal!!

Tudo que você sempre quis saber sobre cadeirantes, ...

... mas tinha medo de perguntar!
Existem certas perguntinhas que todo cadeirante ou seu parceiro costumam ouvir freqüentemente. Achei que seria interessante e talvez até divertido, além de esclarecedor, listar algumas delas aqui, com suas devidas respostas. Vamos lá!

• A cadeira do seu namorado é motorizada?

Essa é uma das primeiras perguntas que escuto quando digo que meu namorado é cadeirante. Acho que eu mesma pensava que cadeiras motorizadas deveriam ser as melhores e mais práticas. Mas como explicamos nesse post aqui, o uso dessas cadeiras é indicado para alguns casos e para outros não.

• Ele é independente?

Importante aqui é definirmos o conceito de independência. Muitos cadeirantes precisam de ajuda para algumas tarefas do dia a dia, mas isso não significa que eles não sejam independentes. Ser independente é ter personalidade e vontade própria. A pessoa pode até precisar de ajuda para resolver uma ou outra tarefa, mas se é ela que toma as decisões sobre sua vida, sim, ela é independente. Da mesma forma, conhecemos uma porção de pessoas que andam e não conseguem comprar pão na esquina sozinhas. Essas são muito mais dependentes do que a maioria dos cadeirantes.

• Ele dirige?

Sim, e muitos cadeirantes podem dirigir. Depende do tipo de deficiência que a pessoa possui. Quando ela tem mobilidade suficiente para isso, basta que o carro seja adaptado. Ao invés de usar os pedais para freio, aceleração e embreagem, é tudo feito com as mãos. Aliás, ironicamente, é mais fácil um cadeirante dirigir no Rio do que pegar um ônibus...

• Cadeirantes costumam sair?

Entendam, cadeirante não é sinônimo de eremita. Pessoas com deficiência saem, se divertem, vivem. Poderiam até sair mais, se os espaços urbanos e estabelecimentos, sem falar dos transportes públicos, fossem adaptados. Aliás, um dos objetivos do nosso blog é incentivar pessoas com deficiência a saírem de suas casas. Botarem suas caras na rua e, quando encontrarem algum espaço que privilegia a acessibilidade, divulgarem-no.

• Os cadeirantes dançam?

Bom, eu acho que isso depende do gosto de cada um. Tem muita gente, cadeirante ou não, que não gosta de dançar, não é mesmo? Mas se a pessoa gosta, sim, ela dança. Qual é o problema? Existem até grupos de dança de cadeirantes. Aliás, uma boa história sobre um cadeirante e uma pista de dança, você lê aqui.

• Seu namorado cadeirante trabalha?

Sim, ele trabalha. Ele e mais um monte de outros cadeirantes. Aliás, não vejo porque o fato de ele não conseguir andar possa fazer dele uma pessoa incapaz de trabalhar. Acredito que teríamos muito mais pessoas com deficiência trabalhando se os preconceitos em relação a elas diminuíssem e se a acessibilidade dos transportes e empresas melhorasse. Mas aguardem que em breve escreveremos sobre esse tema com mais detalhes.

• Como os cadeirantes fazem para viajar de avião?

Cada vez mais reclamamos dos espaços apertados nos aviões comerciais. Aquele corredorzinho mínimo, que te obriga a ficar na poltrona caso a aeromoça esteja passando com o carrinho de bebidas e comidas. Imagina então uma cadeira de rodas transitando por ali. Pois é, não dá. O que o cadeirante faz, então? Bem, ele chega até o avião, normalmente na sua cadeirinha de estimação, e torce para que o embarque seja feito por finger (aquele túnel que liga o terminal ao avião) ou exista um elevador para levá-lo do solo até a entrada do avião. Às vezes não há nenhum dos dois e ele tem que ser carregado. Uma vez lá dentro, passa para a cadeira de bordo, que é mais estreita e cabe no corredor. Caso, precise ir ao banheiro, precisa pedir a cadeira de bordo ao comissariado. Sim, em viagens longas é bem chatinho...

• E como eles sobem escadas?

Sozinhos eles não sobem, precisam ser carregados. Já existem algumas cadeiras especiais que sobem e descem escadas, mas ainda são muito caras às vezes pouco práticas. Além disso, convenhamos que cadeira de rodas e escada não combinam, né? Há grande risco de acidentes e por isso fazemos campanhas por mais e mais elevadores e rampas!

Por último, não poderíamos deixar de fora a pergunta que todos gostariam de fazer, mas poucos têm coragem de perguntar (confesso que nem tão poucos assim. Já ouvi essa pergunta de tanta gente com a qual não tinha a menor intimidade. Vocês nem imaginam!):

• Cadeirantes fazem sexo?

SIM! Cadeirantes são pessoas com hormônios e necessidades iguais a quaisquer outras. Fazem sexo, sim senhor! Só não vamos entrar em maiores detalhes porque somos pessoas discretas :)

E você? Tem alguma outra pergunta que escuta com freqüência?

Por Bianca Marotta

Sexo é vida!

A pedagoga Gisela Bordwell aborda fatos interessantes nesta vivência sexual. Para Gisela, que pesquisou bastante sobre o assunto, o principal limitador da sexualidade do lesado medular é o preconceito, próprio e de quem rodeia. E destaca o envolvimento emocional e as fantasias sexuais como grandes aliados na satisfação da libido.

“(…) A criatividade sexual bem explorada é sempre bem-vinda, proporcionando o prazer da proximidade dos corpos, cheiro de suor, toque da pele e a imaginação de união num grau máximo. É a sensação de duas pessoas serem uma só, mesmo que seja num nível imaginário. Fantasias podem e devem ser usadas como meios de sedução, porém não se deve construir uma relação baseada apenas em fantasias. Essa postura seria como construir uma casa sem nenhum alicerce, ou seja, a destruição é certa. Deve sempre ficar muito claro para o casal o que se espera daquela relação para não haver sofrimentos. Todos esses detalhes bem explorados são fortes artimanhas para uma relação saudável quando acompanhados de propósitos bem definidos.
Estes pequenos truques, quando acompanhados por trocas de palavras que agradam ao coração, palavras de carinho, conforto e apoio moral levam a uma relação completa. O mesmo ocorre quando, através um olhar de aceitação plena entre duas pessoas que se sintam completamente envolvidas emocionalmente na relação por algum charme especial. Também quando a pessoa sente intuitivamente que seu companheiro está se aproximando sem ser avisada. Ou ainda, quando uma delas tem o pressentimento de que o outro está em perigo ou está muito feliz. Tudo isso é resultado de uma cumplicidade muito grande quase sem explicação. Como uma entrega total entre o casal. Algo, por que não dizer, divino, possível de acontecer. (…)” Gisela Bordwell

A realidade sexual do portador de lesão medular

Sei que o universo da deficiência física é muito mais amplo que a lesão medular, mas preferi comentar sobre essa deficiência já que trata-se de algo, infelizmente, comum em nossa sociedade atual. Em tempos de balas perdidas e acidentes de trânsito indiscriminados, a re-socialização do cadeirante a níveis sociais, psicológicos e sexuais, tem que ser discutidas à exaustão para sensibilizar sociedade e as autoridades.
Uma pesquisa feita entre portadores de lesão medular, mostrou que 60% das mulheres e 50% dos homens, não tinham vida sexual após a lesão. E este desinteresse devia-se à própria condição física de estar em uma cadeira de rodas. Aspectos físicos e motores comprometiam a auto estima e também o vilão maior: o descontrole esfincteriano.
O medo da possibilidade de eliminar urina ou evacuar durante o ato sexual, trancafia o portador em um celibato voluntário. E para reverter este pensamento, o mais indicado é a terapia sexual. Uma orientação sobre o físico e o psicológico. A princípio, a troca de informações e experiências entre os portadores é fundamental para a aceitação e entendimento. Em um segundo momento, o portador é encaminhado a um urologista que apresenta a realidade médica e possibilidades terapêuticas.
Indico a leitura do livro Revolução Sexual Sobre Rodas, de Fabiano Puhlmann, psicoterapeuta especializado em deficiência física.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Talão de Multa Moral pretende educar motoristas infratores

A campanha pretende orientar os motoristas, por meio da multa fictícia, deixada no pára brisas dos carros estacionados indevidamente em vagas reservadas às pessoas com deficiência em shoppings, hipermercados e demais estabelecimentos comerciais.
A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida produziu talões de Multa Moral, com o objetivo de educar e orientar as pessoas que não respeitam as vagas de estacionamentos reservadas às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
A campanha pretende orientar os motoristas, por meio da multa fictícia, deixada no pára brisas dos carros estacionados indevidamente em vagas reservadas às pessoas com deficiência em shoppings, hipermercados e demais estabelecimentos comerciais.
Além de alertar que o condutor do veículo está numa vaga exclusiva, a Multa Moral lembra o infrator que os habituais “cinco minutinhos” ocupando a vaga podem acarretar diversos transtornos a quem realmente tem direito de utilizá-la.
O Decreto Federal 5.296/2001 determina a reserva permanente de no mínimo 2% da totalidade das vagas dos estacionamentos, para uso exclusivo de veículos de pessoas que tenham dificuldade de locomoção, devidamente sinalizadas.
Os interessados em participar da campanha educativa podem retirar os talões de Multa Moral na Praça de Atendimento da Subprefeitura do Jabaquara, na avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 2.314. Também está disponível para retirada exemplares do manual “Dicas de Relacionamento com Pessoas com Deficiência”.


Essa ideia é legal e seria muito benvinda em Mato Grosso do Sul. Vamos solicitar ao prefeito de Campo Grande para fazermos um teste. Obtendo resultados positivos, estenderemos para todo o Estado.

A Capital dos nossos sonhos


A capital dos nossos sonhos é aquela que permite ao cidadão PRODUTIVO, ainda que em uma cadeira de rodas, poder acordar cedo, ir trabalhar e voltar no fim do dia com a
sensação do dever cumprido, por saber que garantiu o sustento de sua família, e com sua auto-estima elevada, por estar cumprindo seu papel de provedor.
A capital dos nossos sonhos é aquela que tem escadas, mas também não se esquece de que rampas são necessárias, para que a liberdade constitucional de ir e vir seja preservada... tem elevadores, pois mesmo em uma cadeira de rodas, os cidadãos PRODUTIVOS merecem ocupar seus postos nos lugares mais altos das edificações.
Essa é a capital que buscamos com todas as nossas forças e empenho por acreditar que se lutamos sem desistir, os sonhos se tornam realidade.
A poucos dias relembrei com uma amigo uma frase que diz que “as águias não sobem escadas, elas voam.”
Na Capital dos meus sonhos, as gaiolas serão abertas para que as águias alcem seus vôos e possam exercer com plenitude sua função de águia... e seremos Campograndenses orgulhosos por a "Capital dos nossos sonhos" ter se tornado uma doce realidade!!

(escrito como uma declaração de amor à capital do Mato Grosso do Sul, onde vivo a 32 anos, dos quais, 22 como cadeirante)

Fonte: Escrito por Binho

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ÚLCERA DE PRESSÃO (ESCARAS)

Perebinhas e perebonas


“Zimininos”, quem é lascado pela guerra e fica “malacabado” das pernas ou mesmo quem contrai um “dodói” (tô mona hoje, né? ) e precisa ficar acamado por muito tempo tá sujeito a uma perebinha danada comumente chamada de “escara”, mas cujo nome de “verdadchi” é úlcera de pressão.
O lance funciona assim: como o sujeito fica mais parado do que “zóio de santo” o bumbum (oia que chique), sobretudo, fica exposto, devido à ausência de movimento, a criar uma perebinha que, sem cuidados imediatos, pode se transformar numa perebona, num transtorno sem fim.
Quem vai explicar pra tudo mundo isso é Gisele Azevedo, que é mais conhecida neste blog do que nota de R$ 1... . Para quem não sabe, ela é especialista justamente em terapias para sarar os problemas fisiológicos que os lesados normalmente adquirem. A Gi também é professora universitária, com doutorado, ou seja, num sabe de quase nada...
Faço questão que todo mundo conheça mais sobre as tais “úlceras” porque o tema é muito desconhecido, apesar de ser bem comum. Com mais informações para todo mundo, acho que menos os cadeirantes vão sofrer com os machucados, porque poderão ser alertados dos riscos, e mais gente vai conseguir se livrar do problema, se cuidando direitinho!

A coisa começa assim: quando a gente tem a sensibilidade normal, mudamos de posição constantemente, sem que nos demos conta. Fazemos isso no piloto automático, descruzando pernas, levantando uma banda da bunda da cadeira, chacoalhando as pernas, e por aí vai.
Com a sensibilidade tátil alterada, como acontece em várias deficiências, essa percepção para mudar de posição não acontece, e a pessoa fica horas/dias/meses do mesmo jeito, se alguém não auxiliar na mudança, para aqueles que também têm a mobilidade prejudicada. Se isso acontecer, os pequenos vasos (artérias e veias) ficam comprimidos entre as saliências ósseas e a cama, deixando de levar sangue aos tecidos. Isso ocasiona a morte das células.
Tecido morto para o nosso corpo é coisa estranha, ele só reconhece coisas vivas e daí o negócio é botar para fora. Está iniciada a úlcera por pressão, que recebe esse nome justamente para que se lembre a sua origem. Antigamente chamava-se escara, hoje o nome mudou.
Começa sempre com uma vermelhidão que não desaparece quando se comprime levemente a pele, esse é o Estágio 1. Pode botar fé que aí a pele já morreu, abrir tudo é só uma questão de tempo.
Estágio 2 é quando tem perda de tecido de pequena profundidade, atingindo somente as camadas superiores da pele. No Estágio 3. Há o comprometimento de toda a pele e, no 4 há perda de músculos e pode chegar aos ossos.
Ou seja, o cabra chega ao pronto socorro todo estropiado, a equipe vai cuidando de fazer diagnóstico, radiografias, tomografia, imobilização, cirurgia, curativos, medicamentos, estabilizar o caboclo e todo mundo deixa ele bem quietinho, sem mexer. Quando passa o furacão, se aparecer uma alma sensível e competente, vão começar a mudar de posição na cama e... surpresa!!! Tem uma baita feridona na bunda do cidadão. Simples assim.
Vamos tratar? Prá começar, mudar de posição a cada duas horas, religiosamente. Isso quer dizer virar para um lado e ficar duas horas. Depois, virar para o outro, mais duas. Depois, de bruços, outras duas horas. E de costas, mais duas horas.
Ou seja, somente a cada 8 horas vai haver pressão na mesma área novamente. Se estiver sentado na cadeira de rodas, tem que fazer a “descompressão isquiática”, ou push-up: a cada 30 minutos, levantar o corpo sustentando-o nos braços, pelo máximo tempo que conseguir.
Sem isso, pode baixar “gzuis” que a ferida num fecha, pois faltará o principal: estradas livres para chegar nutrientes nas células. Segunda coisa: alimentação rica em proteínas e vitaminas, com suporte profissional. Caso contrário, não haverá nutrientes suficientes para criar pele onde precisa ser cicatrizado. E pode comer de tudo, nenhum alimento é proibido por causar feridas, pelamordedeus!!!!!

Prá finalizar, sugiro a contribuição de um profissional enfermeiro com conhecimento especializado em feridas, o estomaterapeuta (uma lesada que nem eu, craro ), para avaliar o cidadão e a lesão e indicar a melhor cobertura a ser colocada ali, além da limpeza adequada.
Não dá prá chutar nem botar qualquer coisa, pois isso pode atrapalhar tudo. E jamais deixar aberto, botar prá tomar sol, utilizar produtos caseiros, ervas e “quetais”. Ah, e o sujeito tem que estar sempre sequinho, limpo, sem “totô” ou “xixi”, senão vira um caos.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Juju também é cultura

No momento, estamos produzindo um programa sobre termos adequados para se referir às pessoas com deficiência. Todo mundo sabe que não é legal chamar uma pessoa que usa cadeira de rodas de aleijado, a não ser claro, de mútuo acordo, que é uma piada. Como é o caso do nome deste blog. Mas, sério, acho importante deixar claro que a piada só vale a pena quando o objeto da piada também acha graça. Tipo, tem muito cadeirante que não curte ser chamado de aleijado, mesmo que de brincadeira. Ai, vai da auto-estima de cada um, né?
Mas, voltando aos termos. Anota ai: aleijado hoje é pessoa com deficiência. Esqueçam pessoa portadora de deficiência (porque ninguém porta sua deficiência, eu porto uma caneta, minha identidade, mas, infelizmente não porto minha deficiência, seria bom né? Hoje tem festa e por isso não vou portar minhas sequelas neurológicas na medula!) Também não se fala mais portador de necessidades especiais. Necessidades especiais todos temos! Eu por exemplo, estou com uma necessidade especial decorrente da falta de sexo. Também não é um adjetivo adequado chamar de especial quem tem uma deficiência. Todo ser humano é único e por isso mesmo especial. Claro que existe muito projeto de ser humano que deveria queimar no mármore do inferno, mas isso é assunto pra outra hora. Também tem muita pessoa com deficiência que não vale o que come, não é só pq a criatura não enxerga ou não caminha que ela vai ser uma boa pessoa. Além disso, especial tem uma conotação paternalista que deve ser abolida!!!

Escrito por Juliana Carvalho (tetraplégica)